domingo, 9 de maio de 2010

A Ilha - Aldous Huxley

A ilha foi o último romance publicado por Aldous Huxley, e foi alvo de diversas péssimas interpretações. O tema do romance dá margem a, na análise do livro, o crítico expor suas ideias e ideologias como se fossem conclusões do romance, quando, na verdade, não são. Bom, vou tentar explicar.
Tudo começa quando o jornalista Will Farnaby acorda na ilha de Pala, após um acidente velejando em um momento de lazer de uma viagem a negócios ao país vizinho à ilha. Will é um jornalista inglês que trabalha para um conglomerado de imprensa controlado por um sujeito chamado Lord Aldehyde. Além disso, Aldehyde o utiliza como embaixador pessoal, sondando negócios para suas companhias de petróleo e cobre. Um exemplar perfeito do cínico ocidental.
Will já tinha ouvido falar da ilha de Pala e fazia parte dos seus objetivos tentar ir lá, porém a ilha é extremamente fechada e seria improvável ele conseguir um visto. Sua intenção era sondar negócios para a companhia petrolífera de Lord Aldehyde na ilha de Pala, riquíssima em campos de petróleo inexplorados.
Ao se acidentar e acabar indo parar em uma praia insular, ele é socorrido por moradores locais e, assim, acaba conhecendo o motivo do isolamento da ilha. Ele descobre que lá se desenvolve um tipo de sociedade alternativa utópica que para nós, hoje em dia, seria completamente o que se chama de 'new age'. Lá se aplicam diversas práticas medicinais, psicológicas, educacionais e sociais que visam a felicidade plena e a liberdade, a maioria delas consideradas alternativas (pelo ocidente), outras não. Além disso, na ilha, que fica perto do Sri Lanka, Índia etc. se professa uma religião oriental, uma mistura de budismo tântrico com hinduísmo, e utiliza-se cogumelos alucinógenos, de forma controlada, em experiências psico-místicas. Porém, em momento algum, o autor determina a realidade da ilha como a verdade absoluta das coisas, mas, sim, como uma experiência bem sucedida até aquele momento.
Muito da discussão da crítica girou em torno de concordar, ou não, com a possibilidade da utopia da ilha e de todas aquelas teorias serem postas em prática. Porém, isso é muito enfadonho. O livro é muito legal. O desenvolvimento do personagem principal, o cínico ocidental que se depara com uma cultura completamente diferente e aberrante para os seus padrões, e os diálogos intelectuais (as vezes um pouco chatos) que acontecem entre ele e os líderes da ilha são bem interessantes, quer você concorde, ou não, com os argumentos defendidos pelo Dr. Robert Macphail, o médico responsável científico (vamos colocar assim) pelas ideias aplicadas em Pala. Só isso já é suficiente para valer a leitura. A opinião de um crítico jornalista não importa, a sua opinião é o mais importante, e cabe a você tirar suas próprias conclusões da leitura, é isso que o Cara Comum defende. Vale muito mais a pena, eu agarântio.
O que o Cara Comum (que não é crítico de p.n.) acha é que na época em que o livro foi escrito, as teorias aplicadas na ilha não tinham essa conotação de coisa new age, que têm hoje em dia, e não haviam, ainda, sido desvirtuadas por quem defende, ao mesmo tempo, essas teorias e o obscurantismo pseudo científico, fazendo elas serem desacreditadas. Na minha opinião pessoalíssima, toda tese, ou ideia, ideologia, sei lá, que é abraçada por uma massa, sem reflexão nem debate, apenas como um modismo, como uma corrente de ideias que, de repente, para uma pessoa ser aprovada por determinados grupos, tem que se seguir sem rigor científico, torna-se uma crença irracional, não mais uma tese que poderia ser válida. E, também, entrando no enfadonho, não acredito que a utopia palanesa seria possível, pois não acredito na padronização do comportamento humano, seja qual for o tamanho do grupo a tentar ser padronizado, seja pra bom ou pra ruim. Na Alemanha nazista de Hitler, haviam alemães que não aprovavam aquilo tudo e não queriam seguir aquele caminho, assim como em uma sociedade alternativa, existirão os que não quererão viver de acordo com as regras que supostamente levam à felicidade plena e não quererão, também, ir embora de sua terra, o que fazer com esses? Obrigá-los a se convencer que é melhor viver dessa ou daquela forma? Bom, eu acredito que é mais provável o cara morrer infeliz tentando atingir a felicidade plena, o que nós, ocidentais, já fazemos o tempo inteiro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário