sexta-feira, 18 de junho de 2010

As Intermitências da Morte - José Saramago

Não tenho escrito ultimamente por pura e total falta de vontade. Estou meio cansado ultimamente, muito trabalho. Porém, o falecimento do grande escritor José Saramago me estimulou a postar alguma coisa por aqui e acredito que minha frequência vai voltar ao normal.
As Intermitências da Morte foi um dos últimos romances publicados por Saramago. Eu não gosto de já ir partindo para as obras principais... então, comecemos pelas beiradas. Além disso, o tema do romance vem a calhar: um belo dia, as pessoas param de morrer em uma cidade.
Como era de se esperar, a ausência de morte desencadeia uma série de acontecimentos e de situações absurdas, os quais Saramago explora muito bem, com todo o seu conhecido sarcasmo. Diversos dilemas morais e sociais causados pela falta de morte são abordados. No livro, a morte é personificada em uma  figura humanizada feminina, e é protagonista. As situações mais esdrúxulas vão acontecendo, como, por exemplo, pessoas que vão até a cidade vizinha para poderem morrer. Em diversos momentos se cai na risada com as analogias que o autor faz, relacionando o mundo fictício do romance com o mundo real. Porém, eu fico com um sentimento parecido com o qual sinto com os filmes de Woody Allen, ideias batidas e reviradas, mas que com uma roupagem artística, uma estética diferente e virtuosismo na apresentação, soam como novidades super inteligentes.
Bom... já que mencionei Woody Allen, chegou a hora do sacrilégio. Podem me chamar de herege, tenho certeza que Saramago teria orgulho de mim!
José Saramago tem um estilão próprio que as pessoas (pseudo intelectuais de plantão, críticos etc.) adoram puxar o saco. Eu não sou muito fã. Ele escrevia quase sem vírgulas e pontos. Parágrafos gigantescos com frases imensas com duzentas mil orações. Ah... muito chato. É ruim de ler. O leitor se perde o tempo inteiro, os diálogos são misturados na narrativa. Tem quem goste de verdade do estilo, mas, para mim, frases com muitas orações são enfadonhas, a pessoa tem que voltar o tempo inteiro pro começo para entender. Como dizem em minha terra: "pra quê isso?" É um recurso estético? Linguístico? Não sei... não sou especialista e nem quero ser. Só sei que é ruim de ler pra caramba. Tipo música feita para músico, que é ruim de ouvir pra caramba, também.
Porém, em As Intermitências da Morte, o estilo do autor não atrapalha tanto. Em verdade, vos digo, é até um romance muito legal. Super divertido, interessante e inteligente, apesar de muitas vezes, como já citei, repisar debates e ideias antigas, sem acrescentar muita coisa. No entanto, sempre com a roupagem Saramago, ganhador de prêmio Nobel etc. e tal. O que dá uma aura super intelectual. Pronto... podem me queimar na fogueira da inquisição.
Ah! Se quiserem saber mais sobre o autor, consultem a Wikipedia... tem um monte de coisas lá.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Ponto de Impacto - Dan Brown

Só para quebrar um pouco...
Caramba.... faltam-me palavras pra descrever o quanto esse livro é ruim. Na realidade, Dan Brown é muito ruim. Muito. Chega a ser ridículo. Não se preocupe, não gastarei muitas palavras com ele.
O Cara Comum adora ler apenas para se divertir, adora ler um romance rápido e interessante, que faça o tempo passar de forma agradável. Porém, esse não é o caso. O mote de Ponto de Impacto é ridículo, absurdamente imbecil, não vale a pena nem ser comentado aqui para não empobrecer o nosso querido e já ausente de muitas riquezas, blog. Os personagens são estereotipados, toscos. Além disso, vários cacoetes do autor, os quais aparecem em outros livros ridículos dele, se repetem, como, por exemplo, sempre deixar a resolução pro próximo capítulo, parece seriado americano de quinta categoria. Pelo menos, nesse romance, o simbologista encarnado por Tom Hanks no cinema não aparece... seja lá o que for um simbologista... isso existe, mesmo?
O pior é que deve ter um monte de phd em Simbologia. Já imagino até a tese, "Um estudo sobre os símbolos empregados nas portas de banheiros de botecos do bairro do Neco e blablablablabla"
Não vale a pena, não perca seu tempo com literatura que empobrece. Existem autores divertidos e inteligentes. Dan Brown não é o caso. O Cara Comum não recomenda.

domingo, 6 de junho de 2010

O Fim da Eternidade - Isaac Asimov

Isaav Asimov era genial. Ponto final. Em O Fim da Eternidade, ele simplesmente detona o paradoxo da viagem no tempo, ao assumir que múltiplas realidades podem coexistir paralelamente. A realidade se desenvolveria seguindo um curso natural, os fatos aconteceriam de acordo com a probabilidade média. Porém, surge uma instituição que se coloca fora do tempo, monitorando as realidades, e modificando-as, de acordo com o que seriam os melhores interesses da humanidade, fazendo com que a realidade seguisse um curso controlado. Além disso, a organização controla as viagens temporais e o comércio entre diferentes épocas.
Nesse contexto, surge o protagonista, Andrew Harlan, o cara. E surge Noÿs Lambent, a garota. E uma trama muito interessante, genial, se desenrola. Eu manterei o meu padrão e não entregarei a história.... leia. Vale a pena. O Fim da Eternidade é um dos melhores de Asimov. Como eu falei, ele detona aquela história de paradoxo, do cara que mata o próprio avô antes de seu pai nascer... Conta-se que quando ele resolveu escrever esse romance ele queria superar tudo o que havia sido escrito dentro do contexto do paradoxo temporal. Ele conseguiu de forma simples, direta, genial.
Quando eu li O Fim da Eternidade pela primeira vez, eu não sabia do que se tratava e foi uma surpresa mais do que agradável. Asimov está entre o que há de melhor na ficção científica e vale a pena ser lido e relido. Afinal, é, obviamente, entretenimento de primeira.
Em breve comentarei sobre a trilogia Fundação...

terça-feira, 25 de maio de 2010

Sargento Getulio - João Ubaldo Ribeiro

Na ignara opinião do Cara Comum, Sargento Getúlio é uma obra de arte. Não sei se seria "a" obra prima do autor, porque acho Viva o Povo Brasileiro muito melhor. Mas, com toda certeza, é magnífico.
Sargento Getúlio assusta um pouco, é difícil no início, afinal, é um monólogo e o Cara Comum não dá de cara com monólogos a toda hora. Tudo que se compreende da história, vem da fala ininterrupta do sargento que empresta seu nome ao título e é o personagem principal. O virtuosismo de João Ubaldo é magistral, no linguajar do sertão do personagem, as vezes difícil de compreender, na dinâmica que consegue imprimir à narrativa e na forma como condensa um momento histórico e cultural em um conjunto formado por cenário, alguns poucos personagens e enredo. Na narrativa, até os diálogos são, em sua maioria, "monologados", quando o protagonista reproduz as respostas dos outros personagens. No entanto, ainda sobram alguns poucos diálogos para quebrar a torrente de palavras do sargento.
A história se desenrola em meados do século XX, no interior de Sergipe, onde o personagem principal, o sargento Getúlio, tem que conduzir um preso político até Aracaju, com a ajuda do motorista Amaro. Diversas coisas acontecem nesse percurso, e essa é a parte melhor da história, portanto, eu não contarei. Mas vale a pena ler o livro, por sua beleza poética, pelo mergulho cultural em um passado não muito distante e, para este Cara Comum, bastante próximo, geograficamente falando, e, claro, pela diversão. Sargento Getúlio é divertido, sim. Eu, pelo menos, depois de ter vencido a empacada inicial e ter acostumado com o ritmo da narrativa, não conseguia parar de ler, queria saber o que ia acontecer, e como tudo se desenrolaria no final.
Depois escrevo sobre outros livros de João Ubaldo, o qual considero um dos melhores escritores que o Brasil já produziu, e merecia ser mais reconhecido.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

O Homem Duplo - Philip K. Dick

Na descrição do próprio autor: "Este é um romance sobre algumas pessoas que foram punidas excessivamente pelo que fizeram."
O Homem Duplo passa-se em um futuro próximo e, praxe da ficção cientifica, decadente. O abuso de drogas é um problema crônico na sociedade, e, também, praxe, existe uma droga específica, a Substância D (Slow Death - Morte Lenta), que é responsável pela maior parte do vício na população. O protagonista é um agente da polícia infiltrado em uma casa habitada por três junkies, para tentar identificar um traficante. Assim, cada vez mais, ele vai se tornando dependente da droga, o que o leva a assumir uma segunda personalidade.
O autor desenvolve a história a partir dos ciclos de confusão mental e paranóia extremas nos quais os personagens se inserem ao usar a droga, criando diálogos e situações absurdos que vão evidenciando a contínua piora do estado mental dos personagens e do protagonista. A forma de agir da polícia (o Cara Comum não fala 'modus operandi') é muito inusitada, com seu disfarce tecnológico e tudo mais. A conclusão do romance é muito interessante, porém, triste e, talvez, um pouco previsível em alguns aspectos. No entanto, a leitura é bastante interessante, o Cara Comum recomenda.
O Homem Duplo é um romance divertido, interessante, e, ao mesmo tempo, triste, quando mostra a decadência humana e até que ponto uma pessoa pode chegar em busca de prazer momentâneo. A tragédia dos personagens de Dick remonta a uma simbologia católica antiga, o pacto com o demônio. O diabo não mete mais medo, ninguém acredita mais nele. Porém, o aprisionamento irreversível da mente pelas drogas, ou pela própria religião, é real.

domingo, 9 de maio de 2010

A Ilha - Aldous Huxley

A ilha foi o último romance publicado por Aldous Huxley, e foi alvo de diversas péssimas interpretações. O tema do romance dá margem a, na análise do livro, o crítico expor suas ideias e ideologias como se fossem conclusões do romance, quando, na verdade, não são. Bom, vou tentar explicar.
Tudo começa quando o jornalista Will Farnaby acorda na ilha de Pala, após um acidente velejando em um momento de lazer de uma viagem a negócios ao país vizinho à ilha. Will é um jornalista inglês que trabalha para um conglomerado de imprensa controlado por um sujeito chamado Lord Aldehyde. Além disso, Aldehyde o utiliza como embaixador pessoal, sondando negócios para suas companhias de petróleo e cobre. Um exemplar perfeito do cínico ocidental.
Will já tinha ouvido falar da ilha de Pala e fazia parte dos seus objetivos tentar ir lá, porém a ilha é extremamente fechada e seria improvável ele conseguir um visto. Sua intenção era sondar negócios para a companhia petrolífera de Lord Aldehyde na ilha de Pala, riquíssima em campos de petróleo inexplorados.
Ao se acidentar e acabar indo parar em uma praia insular, ele é socorrido por moradores locais e, assim, acaba conhecendo o motivo do isolamento da ilha. Ele descobre que lá se desenvolve um tipo de sociedade alternativa utópica que para nós, hoje em dia, seria completamente o que se chama de 'new age'. Lá se aplicam diversas práticas medicinais, psicológicas, educacionais e sociais que visam a felicidade plena e a liberdade, a maioria delas consideradas alternativas (pelo ocidente), outras não. Além disso, na ilha, que fica perto do Sri Lanka, Índia etc. se professa uma religião oriental, uma mistura de budismo tântrico com hinduísmo, e utiliza-se cogumelos alucinógenos, de forma controlada, em experiências psico-místicas. Porém, em momento algum, o autor determina a realidade da ilha como a verdade absoluta das coisas, mas, sim, como uma experiência bem sucedida até aquele momento.
Muito da discussão da crítica girou em torno de concordar, ou não, com a possibilidade da utopia da ilha e de todas aquelas teorias serem postas em prática. Porém, isso é muito enfadonho. O livro é muito legal. O desenvolvimento do personagem principal, o cínico ocidental que se depara com uma cultura completamente diferente e aberrante para os seus padrões, e os diálogos intelectuais (as vezes um pouco chatos) que acontecem entre ele e os líderes da ilha são bem interessantes, quer você concorde, ou não, com os argumentos defendidos pelo Dr. Robert Macphail, o médico responsável científico (vamos colocar assim) pelas ideias aplicadas em Pala. Só isso já é suficiente para valer a leitura. A opinião de um crítico jornalista não importa, a sua opinião é o mais importante, e cabe a você tirar suas próprias conclusões da leitura, é isso que o Cara Comum defende. Vale muito mais a pena, eu agarântio.
O que o Cara Comum (que não é crítico de p.n.) acha é que na época em que o livro foi escrito, as teorias aplicadas na ilha não tinham essa conotação de coisa new age, que têm hoje em dia, e não haviam, ainda, sido desvirtuadas por quem defende, ao mesmo tempo, essas teorias e o obscurantismo pseudo científico, fazendo elas serem desacreditadas. Na minha opinião pessoalíssima, toda tese, ou ideia, ideologia, sei lá, que é abraçada por uma massa, sem reflexão nem debate, apenas como um modismo, como uma corrente de ideias que, de repente, para uma pessoa ser aprovada por determinados grupos, tem que se seguir sem rigor científico, torna-se uma crença irracional, não mais uma tese que poderia ser válida. E, também, entrando no enfadonho, não acredito que a utopia palanesa seria possível, pois não acredito na padronização do comportamento humano, seja qual for o tamanho do grupo a tentar ser padronizado, seja pra bom ou pra ruim. Na Alemanha nazista de Hitler, haviam alemães que não aprovavam aquilo tudo e não queriam seguir aquele caminho, assim como em uma sociedade alternativa, existirão os que não quererão viver de acordo com as regras que supostamente levam à felicidade plena e não quererão, também, ir embora de sua terra, o que fazer com esses? Obrigá-los a se convencer que é melhor viver dessa ou daquela forma? Bom, eu acredito que é mais provável o cara morrer infeliz tentando atingir a felicidade plena, o que nós, ocidentais, já fazemos o tempo inteiro.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

O Senhor dos Anéis - J. R. R. Tolkien

O Senhor dos Anéis está na lista dos livros que eu mais gosto. E está entre os primeiros. Ou melhor, entre os três primeiros. Esse não é um livro que eu gostei de ler, é um livro que eu gosto de ler, no presente. Bom, então, vamos lá.
Pra quem não gosta de fantasia, O Senhor dos Anéis pode ser muito chato, pois é um romance extenso, dividido em três volumes. A narrativa é bem descritiva e isso é cansativo para quem não está acostumado à leitura. Porém, na opinião do Cara Comum, esse é um dos maiores trunfos do autor, pois faz com que o leitor seja transportado para dentro da história. E, em um romance no qual o universo fantástico tem um papel essencial, fazer com o que o leitor vivencie cada detalhe dessa realidade, só aumenta o prazer da leitura. Sabe aquele tipo de romance que no final você fica com saudade dos personagens? Pois é, O Senhor dos Anéis é assim. O leitor vai criando um vínculo com cada personagem, enquanto vai acompanhando de perto a sua jornada fantástica rumo ao desconhecido (pqp... que clichê!!!!!).
Em O Senhor dos Anéis, a criatividade de Tolkien foi exercitada ao máximo, não obstante ele ter, em grande parte, condensado diversas mitologias europeias para gerar a sua própria em seu mundo. É muito interessante a riqueza desse mundo, com toda a sua diversidade de idiomas, povos, costumes etc. É incrível pensar que tudo aquilo saiu da cabeça de apenas uma pessoa. Cada povo tem sua língua, suas características próprias, e, durante a leitura, a imaginação do leitor voa para tentar criar na mente as imagens descritas pelo autor. Na opinião do Cara Comum, o filme é legal, mas não chega perto da grandeza do livro.
Tolkien nasceu no finalzinho do século XIX e era um linguista, por isso, seus personagens dialogam de maneira eloquente e existe todo um código de amizade e companheirismo que, hoje em dia, soa meio gay para os desavisados que se importam com isso. (é cada uma, né não?) Porém, deve-se levar em consideração que Tolkien também foi um soldado, lutou na Primeira Guerra Mundial, sobreviveu a batalhas sangrentas, e, segundo estudos não recentes, escreveu uma parte do livro durante a Segunda Guerra Mundial. Os entendidos dizem que os soldados criam um grande senso de amizade nas trincheiras, afinal, eles estão, lado a lado, em uma luta de vida ou morte, um apoiando o outro, salvado o outro etc. e tal. E isso transparece durante toda a história, enquanto os membros da irmandade vão criando um forte vínculo, abalado apenas em alguns momentos pelo poder negativo que o anel exerce nas pessoas.
Claro que existem os que não gostam. Afinal, O Senhor dos Anéis não pode ser considerado um romance sério, é de fantasia, não pode ser um livro adulto, é juvenil, é de nerd e blablablabla... Sinceramente? Eu gosto muito, é um dos romances mais divertidos, envolventes, emocionantes que eu já li, e se alguém não gosta, eu estou aqui como burro em parada. Cagando e andando. Pro Cara Comum, O Senhor dos Anéis é entretenimento de primeiríssima categoria.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

O Seminarista - Rubem Fonseca

Mais um dele... o mais recente. Para uma muito boa (na opinião do Cara Comum), análise jornalística e demais blablablás: Bravo!
O Seminarista é um romance "rápido e caceteiro", pra usar um linguajar no estilo do autor. Eu o li em um voo de duas horas e meia e nem vi o tempo passar. É um romance típico de Rubem Fonseca, retratando um matador de aluguel no Rio de Janeiro com todas aquelas peculiaridades, manias e maluquices típicas dos protagonistas do autor. O artigo na Bravo! aprofunda as influências do autor, como ele coloca suas características próprias nos personagens etc. e tal. Mas isso não interessa ao Cara Comum. O que interessa, realmente, é que o livro é bastante divertido. Não dá vontade de parar de ler, prende do começo ao fim. A trama que é criada e como ela se desenrola faz o leitor ficar ligado constantemente, sem apelar para clichês ao estilo americano. A realidade é que Rubem Fonseca é um grande contador de histórias policiais. A forma como ele constrói e domina a narrativa é soberba, digna de ser estudada e, sim, copiada. Os diálogos são maravilhosos:
-Presta atenção ao que eu vou dizer. Na primeira mentira estouro seus miolos, estamos entendidos? O que foi que aconteceu com um sujeito que veio aqui ontem? O carro dele está parado em frente.
-Um camarada de óculos escuros? Foi liquidado.
-Onde está o corpo?
-No oceano atlântico.
Pois é...

O Seminarista pode não ser, e não é, mesmo, uma obra-prima do autor, mas, repetindo o chavão, é entretenimento de primeira. É como aquele filme de ação que repete aquela fórmula batida, mas é bem feito, bem montado, bem fotografado, bem dirigido, acrescenta algo à fórmula e, acima de tudo, proporciona prazer. O Seminarista é mais um livro de Rubem Fonseca que proporciona extremo prazer durante a leitura.
Entretenimento de primeira.

Agosto - Rubem Fonseca

É sempre bom ler Agosto em ano de eleições. Porque, apesar de não ser um romance estritamente político, Agosto retrata uma época extremamente importante e instrutiva da política brasileira.
É muito interessante perceber como, dado um contexto histórico, o autor desenvolve a sua narrativa característica. Apesar do crime da Rua Tonelero, da presença de Getúlio Vargas como personagem etc. e tal, Rubem Fonseca cria a sua trama padrão entrelaçada com a trama histórica, com quase todos os elementos que o consagraram. Só faltou um anão. Porém, talvez por isso, a parte mais interessante do romance acaba sendo, mesmo, a parte político/histórica. Não me levem a mal, O Cara Comum é fã de Rubem Fonseca, mas, já tendo lido alguns livros dele, na sua opinião, o grande mérito de Agosto é, óbvio, a contextualização naquele momento histórico, uma vez que a sua trama é uma repetição de tudo que o autor escrevera antes (e depois também...). O comissário Mattos é o seu investigador padrão, modelo de personagem presente em diversos romances do autor, e as suas amantes seguem, também, o modelo padrão de personagem secundária feminina relacionada com o protagonista, tanto nos seus comportamentos como na relação que desenvolvem com o protagonista. Por isso, levando em consideração apenas esses aspectos, existem outros romances mais interessantes do autor, porém, a forma como tudo vai se encaixando dentro da parte histórica da narrativa é muito interessante e, também, divertida.
Dito isso, Rubem Fonseca relata com maestria as intrigas, conchavos, traições e tudo mais que pautaram o período durante o qual a narrativa se desenvolve e fizeram as coisas a acontecerem do jeito que aconteceram. É praticamente impossível não associar imediatamente com a realidade contemporânea. É incrível perceber como o formato mudou, mas a essência continua a mesma. A prática política continua a mesma. É incrível, também, como o governo do barbudinho, provavelmente o presidente mais popular da história do Brasil, tem semelhanças com o governo do presidente retratado em Agosto, o dele mesmo, o Pai dos Pobres... Aquele de quem o Cara Comum sempre ouviu sua avó dizer que foi o melhor presidente que este país já teve. Inclusive, aquele busto dele no Rio de Janeiro é horrível, diga-se de passagem... outro dia pintaram o nariz dele de vermelho...
Na opinião do Cara Comum, Agosto, além de ser um grande thriller (eu não consigo escrever essa palavra sem dar risada lembrando de Michael Jackson e aquele clip tosco), mostra como a política fede e sempre fedeu, como a corrupção é quase (quase?) cultural no Brasil e, há cinquenta anos atrás, pelo menos, já operava da mesma forma que continua operando até hoje. Além de ser entretenimento de primeira, claro (o livro não a política).

terça-feira, 4 de maio de 2010

Nós - Yevgeny Zamyatin

Livro difícil de achar pra comprar em português, mas muito bom.
Não vou falar do autor, procure na Wikipedia.
Na minha opinião, é um romance genial. Inspirou grandes obras como 1984 e Admirável Mundo Novo, tendo a mesma visão pessimista do futuro da humanidade. (O Cara Comum não sabe o que é futuro distópico... O Cara Comum tá cagando pro futuro distópico...)
O autor cria uma sociedade futurística, isolada e ultra organizada, controlada por um estado totalitário, representado pela figura do Benfeitor. As pessoas são controladas e vigiadas ao extremo, seguindo os princípios do Taylorismo (sim, aquela teoria administrativa que até hoje mexe com a cabeça do seu chefe).   Vivem em apartamentos de vidro, onde todos acompanham a vida de todos, e se relacionam sexualmente com hora marcada, único momento em que podem abaixar as cortinas do local onde vivem. Tudo isso para alcançar a felicidade absoluta e a sociedade perfeita, pois acredita-se que a liberdade é a causa da infelicidade e do sofrimento etc. e tal (quase budista isso... quase...), assim como a imaginação e a criatividade, essas coisas de artistas... O interessante nisso tudo é a realidade brutal, na qual uma teoria que arbitra como as pessoas devem viver em sociedade é enfiada goela abaixo de uma população por um governo totalitário e opressor, que, inclusive, promove execuções públicas para punir os contraventores. Além disso, o pensamento independente e livre é desestimulado e perseguido. O autor é russo, o livro da década de vinte.
Bom, nesse ambiente acontece toda a trama, com direito a história de amor, fortes emoções, correrias, mistérios e tudo mais a que se tem direito em um romance divertido. Sim, Nós é divertido, até porque se não fosse, o Cara Comum não perderia seu tempo lendo. Portanto, dê um jeito de ler, vale muito a pena. Também vale muito a pena tirar suas próprias conclusões, aproveite a dica. E se ainda não leu 1984 e Admirável Mundo Novo, faça isso depois. Na opinião do Cara Comum, é importante que Nós seja lido antes.
Nós é um romance que nos faz pensar e ficar com aquele comichão na cabeça, aquela pulguinha que fica pulando no canto da mente, aquela coisa incrível que acontece no nosso cérebro quando aprendemos alguma coisa interessante, nos fazendo ter uma visão mais ampla da realidade, da vida, do universo e tudo mais.