sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

A Batalha do Apocalipse - Eduardo Spohr

Ganhei esse livro de presente do meu irmão, indicação do vendedor da livraria que disse que estava vendendo muito. Infelizmente, não gostei muito. Trata-se de um livro de ficção fantástica, no qual uma trama complexa se desenrola culminando na batalha do apocalipse. Anjos, arcanjos, demônios e seres humanos se envolvem na teia de acontecimentos que vão se enrolando até o esperado dia do eclipse. (Só pra rimar e citar Raul...) Mas vamos por partes, começando pelo que é bom.
A estrutura narrativa do romance é bem interessante. Enquanto o enredo principal se desenvolve, o autor entrelaça enredos paralelos que tentam explicar a história dos personagens. Porém, na minha opinião, nesse ponto, a coisa começa a complicar. Achei algumas partes muito atropeladas, enquanto outras são mais lentas, criando alguns problemas de ritmo. Ao mesmo tempo, a estória é difícil de comprar, pelo menos para mim. A trama não me convenceu. Adoro ficção e fantasia, mas não consegui achar, sei lá, factível, não por realismo, mas pela estória em si, pela intriga, mesmo. O que quero dizer com isso? Não gosto de soltar spoilers, então fica difícil explicar. Algumas coisas são muito óbvias. A identidade do anjo negro é óbvia, apesar de ser um dos grandes mistérios do livro. A aliança estapafúrdia que se opõe ao protagonista também se torna óbvia com a aproximação do fim do romance. Fiquei com a impressão que a feiticeira Shamira é uma personagem que poderia ser melhor desenvolvida, o autor poderia ter se aprofundado mais em sua história, mostrando melhor, por exemplo, como ela conseguiu viver mais de mil anos. Sei lá, achei que isso acabou ficando um pouco inconsistente, em alguns momentos ela demonstra grande força, em outros, é frágil como uma garotinha. Isso acaba por fazer com que ela não pareça ser uma pessoa que viveu tantos anos, as vezes agindo de forma meio inocente para alguém com tantas experiências. Pensando bem, na realidade, talvez o romance pudesse ser quebrado em mais volumes, assim, ficaria mais interessante, talvez melhor desenvolvido. Mas acredito que, na prática, não deve ser fácil lançar um livro assim. Inclusive, vi que está sendo vendida uma edição com capítulos extras, a qual, infelizmente, não é a que eu li.
Outro aspecto que me desagradou um pouco foi o estilo da escrita. O autor começa o prólogo com "Certo dia,". Pô... tá, besteira, mas isso soa, para mim, quase como "Era um vez...", em outro trecho ele diz "...e num giro chicoteou com a asa o pelotão à esquerda, jogando todo mundo para trás.", custava substituir "todo mundo" por "todos" ? Tudo bem, isso pode ser um problema de edição e, realmente, não é nada demais. Mas me incomoda um pouco. De qualquer forma, só para ficar claro, eu não quero que o cara escreva de forma rebuscada e erudita, cheio de palavras difíceis etc. e tal. Mas, sim, que haja uma preocupação com a estética do texto, isso é importantíssimo para que a leitura seja agradável e não fique parecendo que estamos lendo um livro escrito pelo sobrinho...
Além desses pontos, existe algo que eu achei meio estranho na narrativa. No meio do romance, o protagonista, o anjo Ablon, começa a contar uma lembrança de seu passado, e, assim, o livro que vinha sendo narrado em terceira pessoa, passa a ser em primeira, e, ao fim dessa parte, volta para a terceira pessoa. Muito esquisito e arriscado. Durante todo o livro a linha do tempo vai e volta, criando a base do personagem principal, desenvolvendo sua história. Então, por que, apenas nesse momento específico, a narrativa muda de perspectiva? Para mim, não faz sentido, porém, de repente, deve ser ignorância minha. Mas que ficou estranho, ficou. Outra coisa, em alguns momentos, o autor se vale do velho artifício cinematográfico do vilão, na hora em que tem o mocinho em suas mãos, explicar seu plano maligno. E, sinceramente, isso não é necessário. Não, mesmo. Principalmente em um romance, como já mencionado, narrado majoritariamente em terceira pessoa com um narrador onisciente. Acredito que isso empobrece um pouco a narrativa.
Finalizando, também não gostei do comentário da orelha do livro, o qual classifica Isaac Asimov como "simples science fiction de antigamente". Na boa, ele tá de sacanagem, né? Porque, para mim, isso é uma visão muito curta. Mas, tudo bem, não é culpa do autor. Além disso, o romance é comparado aos livros de Tolkien, outra coisa que não dá. Não, não, não e não. Sacrilégio. Tolkien era um mestre da fantasia, da narrativa e da descrição, seus textos são carregados de beleza lírica e poética. Porém, ele ainda é extremamente sub-valorizado, principalmente no Brasil, mas não dá para comparar. Fazer isso, cria uma expectativa injusta com o primeiro livro do autor. Para mim, isso seria como comparar a primeira peça publicada por alguém com os trabalhos de Shakespeare. Injusto, porque a expectativa acaba quebrada. Mas, apesar de toda essa crítica, "A Batalha do Apocalipse" tem um valor inegável, principalmente por ser um livro pioneiro na literatura brasileira. Acho que ele deve ser comprado e lido, por todos que gostam de livros de fantasia. Não é perda de tempo, até porque, no quesito entretenimento, o livro é bem legal, dá vontade de continuar lendo e saber o que vai acontecer no final. Com certeza, Eduardo Spohr tem um belíssimo futuro, não só pela sua habilidade como escritor, mas, também, pela sua humildade. O cara tenta ouvir todas as críticas, inclusive as feitas no Twitter e em outros meios internéticos, realmente com a intenção de melhorar. Grande atitude, mesmo!

2 comentários:

  1. Você leu a versão da editora ou a versão idependente mesmo?

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  2. Minha vontade em ler este livro já era pequena, depois da sua resenha está tendendo a menos infinito

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