sábado, 5 de fevereiro de 2011

Fahrenheit 451 - Ray Bradbury

Olha eu aqui de novo falando sobre futuros distópicos... acho que eu devo gostar dessa praga, né?
Fahrenheit 451 foi escrito em 1953, mas parece que foi escrito no ano passado. Esse foi um livro que mexeu comigo, eu lia e pensava, "car%!$* o cara era vidente!". Até citei partes do romance no Twitter! Tá... vou deixar de sacanagem.
A estória se passa num futuro próximo, no qual os livros foram proibidos. Sim, proibidos. Ninguém pode ler. As residências são à prova de fogo e, por isso, os bombeiros, não tendo mais utilidade, passam a ser uma entidade que queima livros. As pessoas são encorajadas a denunciar quem possui livros, o que seria um crime absurdo, e os bombeiros vão até as casas dos criminosos e incineram seus volumes.
Aqui, tenho que mencionar um problema de linguagem. Em inglês, bombeiro é fireman, que em português seria, literalmente, homem do fogo, o que torna o nome mais apropriado à nova função desempenhada por eles. Só de pensar nessa situação, confesso que tive calafrios, tenho muito apego aos meus livros, não gosto nem de emprestar, eles estão entre as coisas que eu mais valorizo nas minhas posses. Meu sonho, de verdade, era ter uma biblioteca. Mas quem se importa?
Voltando ao contexto do romance, além da proibição mencionada anteriormente, as pessoas são encorajadas a possuírem mega aparelhos televisores, que ocupam paredes inteiras, nos quais elas assistem a novelas meio interativas e, surpresa, alienantes. O roteiro é enviado para as casas dos assinantes com as falas, inclusive as falas do telespectador, para que ele desempenhe um papel na novela. Não que seja importante, o programa continua mesmo que a pessoa assistindo não fale. As personagens das novelas são famílias, com as quais as pessoas preenchem o vazio de suas vidas alienadas, como se fossem a sua própria. Quase como as novelas brasileiras, ou os seriados sobre grupos de amigos americanos. Além disso, por diversão, os jovens saem em seus carros em alta velocidade batendo em pessoas que estão andando a pé, e por aí vai.
Nesse contexto, acontece algo comum em romances sobre futuros distópicos, aparece alguém que percebe o absurdo da situação. Normalmente, esse tipo de personagem é despertado por um outro arquétipo, o visionário, geralmente alguém desajustado, que vive à margem da realidade ou da sociedade vigente. E, nesse romance, não é diferente. Viva George Orwell, viva Aldous Huxley, acima de tudo, viva Yevgeny Zamyatin. O bombeiro Guy Montag, protagonista do romance, ao voltar para casa em uma noite qualquer, conhece Clarisse McClellan, uma garota, sua vizinha, a qual, com uma conversa despretensiosa, acaba colocando o bichinho da dúvida na cabeça do bombeiro. Além dela, outro personagem muito interessante e importante no desenrolar dos fatos é o chefe de Guy, o Capitão Beatty, um bombeiro que odeia os livros, mas os conhece bem até demais. Mais uma vez, não estragarei tudo contando o resto. Leia.
Em Fahrenheit 451, Ray Bradbury faz um manifesto a favor da leitura e contra a televisão. A comparação com o mundo atual é inevitável, Bradbury conseguiu enxergar, há meio século atrás, o poder de destruição do intelecto que a TV tem. Felizmente, a opressão institucional que as distopias futurísticas normalmente mostram, não aconteceu, ou não perdurou, pelo menos, não da forma como é retratada. No entanto, ao mesmo tempo, nossa sociedade, através das telenovelas, dos reality shows, seriados etc. e tal, e do total abandono da leitura, trilha o mesmo caminho de alienação e apatia intelectual. Não defendo o intelectualismo e essa baboseira toda... se defendesse, o nome deste blog não seria Literatura com o Cara Comum. Mas defendo o esclarecimento e a capacidade de se ter um pensamento crítico, a não massificação das idéias, o livre acesso à cultura, a livre escolha do entretenimento, entre outras coisas. Conheço pessoas que acharam o romance besta, mas esse não foi o meu caso. Na minha humilde opinião de cara comum, Fahrenheit 451 é entretenimento de primeira, e, melhor, faz o leitor refletir.

Segue uma pequena citação da qual eu gosto muito... uma fala do Capitão Beatty:

"Give the people contests they win by remembering the words to more popular songs or the names of state capitals or how much corn Iowa grew last year.Cram them full of non-combustible data, chock them so damned full of 'facts' they feel stuffed, but absolutely 'brilliant' with information.Then they'll feel they're thinking, they'll get a sense of motion without moving. And they'll be happy, because facts of that sort don't change. Don't give them any slippery stuff like philosophy or sociology to tie things up with. That way lies melancholy"

Pois é! Vamos ler pessoal!

2 comentários:

  1. Acabei de ler o livro por sua causa e já está na minha lista de favoritos. Obrigada pelo seu post!

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  2. Obrigado a você pela visita e por ter levado a sério o post. Esse tipo de feedback é um estímulo para continuar com o blog e me deixa muito feliz!

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